Nenúfares

Nenúfares
Monet

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Que seja feliz!


A notícia de sua partida rangeu como a roda magra de um carro de bois. Rompeu o lacre denso de primitivas memórias. Mutatis mutandis. Mudar o que precisa ser mudado. O arrastar de móveis no pasto interior. Relva molhada que suga o pé das cadeiras pesadas, engole a quina dos quadros multicores, ensopa cortinas. Uma enfezada interrogação cresceu onde antesmente havia perfumes. Quem era esse homem?- interrogava-me no desassossego. Um ferrugento menino desinquieto por ser feliz? Sorri. É certa sua alma generosa. Vai recolher o passado, experimentar a iguaria do ‘ pão de fome guardado na algibeira’. Vai pisar as maduras calçadas onde brincou na infância. Minha inquietação se dissipou e desejei – verazmente- que fosse feliz.


 Teresa Magalhães

2 comentários:

  1. Partidas doem. Deixam muito do outro e levam mais ainda de nós. Mexem conosco. E como você descreve, fazem bagunça no nosso interior.
    Gosto da quebra da linearidade do enredo (não sei se é no mesmo estilo do Machado de Assis). Mas o final ficar suspenso, ter um ritmo diferente do desenvolvimento da narrativa, é agradável.

    "Vai pisar as maduras calçadas onde brincou na infância". Lindo.

    Beijo.

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  2. Para voltar a "pisar as maduras calçadas onde brincou na infancia" é preciso determinação e coragem.
    O menino merece ser feliz.
    Ave, palavra!

    LB

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