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Escultura de Camille Claudel |
O abraço forte, a candura enlouquecida
Vago espaço enfraquecido pelo tempo
Saudade impossível de ser esquecida
Ah! Se eu fosse alado como o amor!
Beijaria teu dorso como o vento
Que sopra a fragrância dos mares,
Bronzearia tua pele
Com o calor do meu corpo,
Diria as palavras repousantes,
Jamais ditas pelos amantes,
Acenderia a vela apagada
E, quase naufragada dos olhos,
Com a réstia pálida que a maré
Quebrante partiu no estrondo de um grito.
Ah! Se eu fosse o marinheiro das bocas abandonadas!
Suavizaria o sono perdido
Apaziguaria os lábios deixando o silêncio
A sede, o desejo, a vontade, a peregrinação
Na brisa dos loucos ardores...
Perfumaria a atração das formas
Com o cheiro das constelações desconhecidas
Faria a vela acesa navegar
Próxima da noite enaltecida
Como se a última luz fosse a nossa.
Ah! Se eu fosse poesia ou poeta!
Recitaria a vertigem de tanto voar
O medo da solidão do deserto
A vaidade de tantos TANTO em tão pouco
Mesmo querendo ocultar tudo
Quando todos os sentimentos esquecerem
O orgulho que o ciúme destrói.
Se eu fosse amor, marinheiro e poesia!
Apagaria todo futuro sem condições
Pelo amor incontável que apenas
Um coração é capaz de suportar
Pelas vezes finitas já amadas
E agora o encanto esculpe
No infinito dos versos a última cruzada
Mas só se eu for marinheiro das bocas abandonadas.
Texto de FLÁVIO HENRIQUE TOSHIRO USHIROBIRA, advogado, mora em Ribeirão Preto,
aluno do curso Ave, Palavra há um ano.