Nenúfares

Nenúfares
Monet

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Último dos encantos

Escultura de Camille Claudel
O abraço forte, a candura enlouquecida

Vago espaço enfraquecido pelo tempo

Saudade impossível de ser esquecida

Ah! Se eu fosse alado como o amor!



Beijaria teu dorso como o vento

Que sopra a fragrância dos mares,

Bronzearia tua pele

Com o calor do meu corpo,

Diria as palavras repousantes,

Jamais ditas pelos amantes,

Acenderia a vela apagada

E, quase naufragada dos olhos,

Com a réstia pálida que a maré

Quebrante partiu no estrondo de um grito.



Ah! Se eu fosse o marinheiro das bocas abandonadas!

Suavizaria o sono perdido

Apaziguaria os lábios deixando o silêncio

A sede, o desejo, a vontade, a peregrinação

Na brisa dos loucos ardores...

Perfumaria a atração das formas

Com o cheiro das constelações desconhecidas

Faria a vela acesa navegar

Próxima da noite enaltecida

Como se a última luz fosse a nossa.



Ah! Se eu fosse poesia ou poeta!

Recitaria a vertigem de tanto voar

O medo da solidão do deserto

A vaidade de tantos TANTO em tão pouco

Mesmo querendo ocultar tudo

Quando todos os sentimentos esquecerem

O orgulho que o ciúme destrói.



Se eu fosse amor, marinheiro e poesia!

Apagaria todo futuro sem condições

Pelo amor incontável que apenas

Um coração é capaz de suportar

Pelas vezes finitas já amadas

E agora o encanto esculpe

No infinito dos versos a última cruzada

Mas só se eu for marinheiro das bocas abandonadas.

Texto de FLÁVIO HENRIQUE TOSHIRO USHIROBIRA, advogado, mora em Ribeirão Preto,
aluno do curso Ave, Palavra há um ano.

3 comentários:

  1. Quando li, "Ah, se eu fosse o marinheiro" lembrei da música da Calcanhotto. Mesmo assim, muito lindo. Pudera eu ter todos os "se's" desse poema. Ai, ai.

    beijos.

    ResponderExcluir
  2. Poema longo, porém belo e direto. Gostei da sutileza das palavras encaixadas uma a uma.

    Parabéns!

    "E agora o encanto esculpe

    No infinito dos versos a última cruzada

    Mas só se eu for marinheiro das bocas abandonadas."

    ResponderExcluir
  3. Li tudo mais de uma vez. Para ser precisa, três vezes. E a cada verso, percebi a beleza das palavras do seu aluno.
    Gostei particularmente da frase: "Ah! Se eu fosse o marinheiro das bocas abandonadas!"
    (também me lembrei da Calcanhotto)
    Quando leio poemas com a qualidade desse, sinto uma invejinha por não ter o menor jeito para tal arte.
    Sorte sua, por ter um aluno tão talentoso. E sorte dele, por ter você, igualmente talentosa, como professora.

    Beijo.

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar.